segunda-feira, 6 de abril de 2009

O menino do córrego



Claudius era um homem sociável, bem apessoado, uma pessoa tenra que se vestia a caráter do que lhe parecia bom. Ninguém os notava como ele queria, porque não gostavam da forma como ele gostava das coisas, das pessoas, dos animais, de encarar a vida. No mundo de almas que vivia não enxergava soluções para seu caso, mas via outros exemplos dos quais ele gostaria de se enquadrar.

Não era um lugar para ele se não soubesse que as respostas estavam em si mesmo. Pois o infortúnio de uma mente carregada, sem nenhuma luz, travaria seus caminhos, desviaria da rota. Claudius parecia ser um espírito perdido, desacreditado, dava seus passos sem nem entender o que aquele mundo lhe representava. Não se fazia convicto até começar a se ver, refletir em um ser distante daquele lugar.

O tal moço de uns 20 anos de idade, que como uma onda de som se permitia falar com Claudius, como uma luz ofuscante se punha a visualizar a figura do espírito. É Pedro, o rapaz adolescente, espinhas no rosto, sonhos a realizar, uma mente trabalhadora e de fácil absorção. Absorveu as irradiações dos eflúvios de uma alma que vagava sem rumo, mas com o destino da iluminação.
Aquele homem que procurava por um canto, andou por muito tempo guiado por sua ansiedade o que lhe abreviara certos prazeres e momentos.

- Este lugar me traz a sensação de perda, mas ao mesmo tempo de ganho... Resmungava Claudius.
- Já experimentou olhar para si mesmo? Disse a voz de um homem do rosto rútisco, que ostentava uma barba grisalha, de camisa branca que deixava aparecer uma parte do busto e calças até o calcanhar.
- Posso adivinhar que alguém lhe mandou aqui, certo? questionou Cláudius.
- Posso dizer que sim e você me retrucar de novo, assim quem sabe ficarás bem pensativo e para de procurar! disse o sábio.

E Claudius parou. Junto com ele a sensação de que pela primeira vez algo estaria vindo à seu favor. Mas a ansiedade não o faria dar o braço a torcer. Como poderia confiar naquele homem que falava estranho? Quem estava se estranhando era seu espírito que precisava relembrar algumas coisas, mas o limite o impediria de andar como gostava, à frente do que não poderia ver, nem sentir, nem tocar.

Era uma tarde de muito trabalho, ao que Claudius deveria participar da roda da doutrina. A palavra do designado atingiria seus interiores, se exercitaria a prática do bem, a caridade com o bem alguns denominavam. Colher ramos de flores e ervas com eflúvios medicamentosos. A ânsia de se chegar logo ao extremo, do momento, implicava no desdobrar das tarefas para alguns, e a ajuda dos espíritos mais graduados era indispensável.

- Tenha fé no que faz meu irmão! disse uma voz suave.
- Se eu dedicar todo meu tempo a ter fé e ficar parado, não vou ao longe, não vejo, não toco, não sinto! Retrucou Claudius com a voz embargada.
- Se fores ao longe antes mesmo do amanhecer, você não estará evoluindo, mas distanciando-se do que lhe é destinado. Continuou a voz.

Todo desafio é compreendido de esforço, dedicação, empenho. Nenhum passo sob a seara de Deus se dará se não houver de se entregar. E Claudius é um espírito que ainda tem a ser desafiado, ou não vestirá mais a caráter, poderá perder seu jeito tenro e nada lhe parecerá bom o suficiente. Algo específico para um espírito que alimenta luxos de si próprio.